12 maio 2008

no mar

Andava à deriva...



Era uma garrafa atirada ao mar num certo dia de temporal. Passou ondas de cinco metros, foi cuspida por uma baleia, viu corais e peixes de todas as cores e feitios. Conheceu. Sempre fechada.
Um dia foi puxada por uma rede que a levou às maos de um velho pescador. Mãos sábias de quem já viveu e viu muito.
Ele agarrou-a com a maior das forças com a melhor das doçuras e então... Abriu-a!

"Vivi e cresci e fiz-me mulher. Quem quer que abra isto já deveria saber que sou um ser do género feminino... Afinal nenhum homem se atreve a desafiar o destino. Consegui realizar muitos dos meus sonhos. Outros não foram realizáveis porque não passavam disso mesmo, apenas ilusões. Sorri muito e fui feliz. Também bati muitas vezes com a cabeça, mas às vezes um bom galo é o ideal para não nos fazer esquecer determinado erro. Escrevo isto no fim dos meus dias. Aquele pelo qual já venho esperando há algum tempo. Sempre sonhei em acabar ao lado do mar numa cadeira de balanço. Sonhei com um fim que poderia ser um de um qualquer romance. Hoje estou sem cabelo, rapei-o porque me fartei de o pentear e o ver cair. Sempre fui de atitudes extremas e impulsivas. Mas não me arrependo não julgue. A vida é feita disso mesmo e o caminho que trilhei nunca foi apagado ou esquecido. Recordo-o com alguma saudade e nostalgia. Percebo então que chegou a altura de me ir. E não quero deixar nada para trás a não ser estes meus últimos vagueios de memória que te chegam a ti hoje, meu último confidente. Que vivas bem e saibas viver. Que chegues ao fim com o sentido de dever cumprido. Que quase no último sopro tenhas vontade de viver mais. Só significará que gostaste e foi importante. Marca o trilho que percorreste mas no fim dá-te ao mundo e deixa-te ir. Adeus porque para mim é agora."

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