27 novembro 2005

Cidadão-jornalista ou Fonte de informação?

Não existe um “cidadão-jornalista”. Tudo o que essa expressão pode representar é nada mais, nada menos do que, fonte de informação. As tecnologias de ponta de hoje em dia que, qualquer cidadão pode obter, dão-lhe a mais-valia de poder registar tudo o que se passa à sua volta e que tem valor noticioso. Sabemos que o poder da imagem é enorme (não pode sofrer influências de carácter subjectivo), no entanto, não pode atribuir a qualidade “ser jornalista” a alguém que não é formado para isso, não responde ao código deontológico nem, muito menos, a hierarquias superiores.

Digamos que a imagem tem um poder considerável, que eterniza um momento e que o repete infinitamente na sua “realidade”. Não podemos por isso atribuir ao cidadão que regista o acontecimento o sufixo de “jornalista”. Ele não é mais do que um espectador, não submetido à pressão dos nervos e que depois pode fornecer ao jornalista esse mesmo material. A isto sempre se apelidou de fonte de informação.

Ser jornalista passa por saber discernir o que é noticia e o que não é. Passa por ser submetido a pressões e mesmo assim saber distinguir a verdade. Passa por responder a um código deontológico. Passa por carregar a responsabilidade de publicar algo assinado por ele mesmo. Passa por responder a hierarquias superiores que funcionam muitas vezes como “gate-keepers”. Ser jornalista passa por obter a carteira profissional após um período de 4 ou 5 anos de estudo de Jornalismo ou Comunicação Social. (Portugal é um caso excepcional, podendo qualquer um obter a carteira profissional. Digamos que a falta de um verdadeiro sindicato e até de uma ordem, é bastante sentida.)
Como se pode perceber, ser jornalista implica muito mais do que sacar do telemóvel ou da câmara de filmar e registar a queda das Twin Towers ou o ataque terrorista no metro de Londres.

De facto, aquando do aparecimento dos blogs (diários pessoais na Internet, com espaço para comentários, muitas vezes com carácter noticioso), esta expressão começou a aparentar ter algum significado. Foi a partir de um site pessoal que o escândalo Bill Clinton e Monica Lewinsky chegou à comunicação social. Foi portanto o habitual “utilizador”, o primeiro a dar a noticia. Porém não podemos definir o texto lá escrito como notícia. Mais uma vez foi uma fonte de informação. Notícia foi o que foi publicado nos jornais, o que foi dito em televisão e em rádio. Isso sim era noticia. Já tinha passado por todo um processo de “filtração” do que não era necessário, já tinha sido confirmado, já tinha dado as várias perspectivas do acontecimento.

Sem comentários: